sexta-feira, 3 de abril de 2009

A busca da identidade com o encontro na religiosidade: uma representação social no mundo globalizado.

A busca da identidade com o encontro na religiosidade: uma representação social no mundo globalizado.
Ludimilla Carvalho Serafim de Oliveira
Drª. Françoise Dominique Valery
Drª. Taniamá Vieira da Silva Barreto3
Ms. Gilcélia Batista de Góis
Dr. Patrício Borges Maracajá

RESUMO: Artigo de revisão bibliográfica. Parte da premissa de que os reflexos do mundo globalizado em nossas vidas estão dia-a-dia mais evidentes. Com isto o processo de reestruturação produtiva e a aceleração das relações globais, evidenciam grande número de conflitos e desigualdades sociais, delineando a busca incessante de alívio, fé e prosperidade nas mais diversas representações sociais religiosas. No mundo do conhecimento, dos avanços científicos e da tecnologia, a ciência e a religião trilham juntas pelo caminho da razão e da fé, alijadas aos fenômenos sociais, políticos, econômicos e principalmente culturais.

PALAVRAS-CHAVE: Religião – Ciência – Capitalismo – representação social – identidade.

Abstract: The reflections of the globalized world in our lives are more evidents day-by-day. The process of new productive struturation and the accelerations of the global relations have as evidence a large number of conflits and social inequalities. Such fact look for a ceaselles search of relief, faith and prosperity in the distincts religious social representations in the last years. In the world of the knowledge, of the cientific progress and of the tenology, the sciense and the religion walk together through of the reason and the faith, allied to social, political, economical and mainly culture phenomenons.

Key Words:

Introdução
Sinais celestes como chuvas de pedra (granizo), tempestades devastadoras, aparecimento de cometas entre outros foram motivos de temor pelo fim dos tempos. Para Gleiser (2001) o ponto de encontro entre a ciência e a religião está na busca de transcender a dimensão humana através de um ideal abstrato de perfeição; na ciência o objetivo é obter o conjunto final de leis que regem os fenômenos naturais e na religião uma busca de aproximação da perfeição moral de seus. Já suas diferenças exprimem a ciência como forma racional de provê os fenômenos naturais, enquanto a religião oferece o consolo emocional. Mas, os homens necessitam tanto da ciência como da religião.
No livro de Daniel, profeta do antigo testamento, em suas revelações, Daniel integra os fiéis em um grande plano de redenção traçado pela mente de Deus, convidando-os a suportar suas tribulações (pois elas terminarão) e a nunca perder a esperança de que a vingança está por vir e será definitiva. Já o Apocalipse último livro do novo testamento foi escrito como respostas ao sentimento anticristão promulgado pelos romanos, na tentativa de garantir a sobrevivência da igreja.
Um grande destaque dado a mistura de ciência e religião é como Isaac Newton inspirado na passagem de um cometa em 1680, busca a racionalidade da ciência para explicar uma profecia celeste, assim considerada pelos homens da época. Newton propôs um método quantitativo para estudar o movimento dos corpos celeste com base no movimento desse cometa.
Na idade média, houve um período de grande tensão, na espera do ano 1000, a mesma que talvez tenha sido vivida pela nossa sociedade atualmente na chegada do ano 2000. O medo do fim dos tempos, e da realização das profecias apocalípticas levaram inúmeras pessoas, de diversas culturas e crenças a um verdadeiro clima de pânico e até mesmo de prazer na busca pela vida eterna.
A quantidade de problemas sociais que vem sendo enfrentados nos últimos tempos incorporou o discurso científico de forma mais ativista, visto que, a mesma desvendou alguns mistérios celestes antes considerados sinais para o fim. O movimento de Reforma Protestante, desvinculou muitos fiéis da religião cristã, dado o caráter hipócrita oferecido pelas indulgências. O que com o desenvolvimento da ciência provocou uma reintegração do homem com o mundo a sua volta. A ciência não promete a salvação, ela consiste numa invenção humana capaz de estudar e explicar o funcionamento do mundo natural. Para Gleiser (2001, p. 80) “ao transformar mistérios em desafios, a ciência adiciona uma nova dimensão à nossa vida”. Assim, a ciência e a religião são formas complementares para uma expectativa de vida melhor, isto é, elas expandem nossa visão de mundo interior e exterior. “Seus métodos e objetivos são diferentes, mas a maioria das pessoas precisam de ambos. Seria errôneo pensar a sociedade trilhando exclusivamente o caminho da razão ou da fé”. (Gleiser, 2001, p. 85).

As transformações atuais globais e a busca da identidade
O atual estágio do capitalismo, caracterizado como a era da modernidade, tem como uma de suas marcas evidentes a aceleração das relações globais vinculada a processos de transformação na escala social, política, econômica e cultural. A dimensão desse fenômeno amplia-se através das desigualdades sociais resultantes do processo em que inscreve a exclusão social, em suas mais diferentes particularidades como fase e reflexo desse contexto histórico que marca a atual fase do capitalismo.
A sociedade na visão de Manuel Castells (1999) (apesar de outros autores considera-lo de funcionalista) adquire atualmente a forma de rede, que na qual, estão presentes fluxos de informações, existindo dessa forma importante “nós”, isto é, pólos que comandam e tornam dependente modelos de forma de vida, cultura e até mesmo informações. O processo, em que vem a ocorrer está delineado pela microeletrônica, pelo avanço da tecnologia, da Internet e pela rápida homogeneização e ao mesmo tempo heterogeneização (paradoxo) e difusão dos modelos culturais que pertencem as mais diversas nações.
A face mais visível desse processo é o fim dos Estados-Nações que mesmo em países que se tornaram modelo do Bem-Estar Social como é o caso da Inglaterra e Estados Unidos acabaram sendo atingidos. Todo esse emaranhado de transformações que delimitam a reestruturação produtiva imbrica o avanço da ciência e da tecnologia na sociedade moderna.
As contradições do atual capitalismo veicularam a exclusão social, como uma de suas marcas profundas, atingindo com sua marca negros, índios, mulheres e toda uma gama de pessoas que não possuem condições de acompanhar esse processo de modernização. A exclusão social chega ao ápice quando evidencia um número exacerbado de desempregados. O desemprego é uma marca que caracteriza aqueles que estão fora do mercado e hoje principalmente àqueles que não tem condições nem oportunidade de se inserir no mesmo.
Devido a toda essa gama de modificações nas vidas das pessoas percebe-se uma identidade marcada pelo valor monetário fragilizada pelo pós-guerra antes amparada pelo Estado de Bem-Estar Social que hoje encontra-se bastante inexistente, o que vem impulsionando uma representação social coletiva bastante perceptível em termos religiosos. Percebe-se atualmente toda uma busca para a conformação e acomodação diante dos problemas e conflitos que emergem na sociedade, isto é, mesmo numa sociedade marcada por avanços científicos, pela biotecnologia e por fluxos de informações que condicionam todo um favorecimento de inter-relações culturais, as pessoas neste final do século tendem a encontrarem-se e satisfazerem-se na busca de suas identidades, sendo a religião um exemplo desta busca.

Ciência e Religião: algumas considerações
A argumentação racional desenrola no âmbito científico e o caminho espiritual iluminado pela religião, hoje complementam-se para possibilitar uma vida melhor, mesmo tendo a ciência e a religião métodos e objetivos diferentes. A diversidade cultural produzida pela globalização suscitou uma cultura-mundo na visão de Renato Ortiz (1994, p. 33), visto que há todo um estilo, uma dinâmica e um intercâmbio de idéias que envolvem pessoas, coisas e capitais. Para Paula Monteiro “as novas identidades estão alicerçadas em uma revalorização do direito à diferença o que torna particularmente problemática as relações entre cultura e democracia no mundo contemporâneo”. Assim, o sentimento de exclusão na participação desse processo complexo de modernização e de globalização levam os indivíduos a buscarem e refugiarem-se no fundamentalismo, seja ele de origem cristã ou protestante.
Na visão de autores como Hans Enzensberger (1994), “o deslocamento da lealdade dos cidadãos do Estado nacional para a etnia ou a religião se deve, por um lado ao enfraquecimento do Estado Nacional, que não é capaz de controlar sua economia atravessada por forças mundiais, por outro, ao surgimento de uma nova classe marginalizada, que não tem partido, ideologia ou estandarte, mas que é fonte e tem ligações com o fundamentalismo, com o crime organizado” (Novos Estudos CEBRAP, 1994, p. 105). O quadro pode ser avaliado de um modo geral percebendo a fragilidade do Estado em controlar problemáticas ligadas ao câmbio das migrações e da contenção do desemprego e de outros tipos de exclusões.
O encontro com a religiosidade na sociedade globalizada de hoje, deve-se também há uma relativa expansão de ONGs, que ampliavam atividades sociais, reforçando o suporte das igrejas, flexibilizando os agentes religiosos para se moldarem ao voluntarismo, a solidariedade em prol do bem comum e do bom convívio social.
A pluralidade que envolve o discurso religioso é uma diversidade seja no cristianismo com a igreja católica ou com igrejas protestantes, haja vista, a busca da religião e de suas respectivas idéias, e ensinamentos visam em alguns casos a prosperidade, em outros a cura e até mesmo o exorcismo dos infortúnios que circundam a vida em sociedade.
A satisfação econômica e a conquista de bens são pontos que são pregados de forma unívoca tanto na igreja católica como na protestante diante do discurso do dízimo da contribuição para a prosperidade.
O aumento das representações religiosas deve-se a conformação e a convivência dos problemas e conflitos que circundam o convívio social. assim a igreja aparece como fonte de lucro e enriquecimento pessoal. Para Max Weber (1987, p. 48) “o capitalismo atual”, que veio para dominar a vida econômica, educa e seleciona os sujeitos de quem precisa, mediante o processo de sobrevivência econômica do mais apto.
A religião assume atualmente uma diferenciação, isto é, particularidades se comparada anteriormente, haja vista, enquanto primeira dominação de representação social a religião buscava explicar o mundo, os seus fenômenos e hoje a religião busca toda uma identidade pessoal, satisfação e realização pessoal. Assim, percebe-se que tanto a religião como a ciência são essenciais no que se refere a dimensão do bom convívio social.
“A ciência e a religião não devem ser apresentados como se estivessem em guerra, mas como caminhos complementares que visam uma vida melhor. Seria errôneo imaginar que uma sociedade pudesse avançar trilhando exclusivamente o caminho da razão ou o da fé” (Gleizer, 2001, p. 85).

À guisa de conclusão
Nossas vidas estão sendo moldadas pelas tendências conflitantes da globalização. Todas as transformações impulsionadas por este fenômeno conduziram à construção de uma identidade. A construção de identidade ocorre pela significação com atribuição a base culturais, isto é, os atores envolvidos na construção da identidade internalizam sua significação através de um aparato que pode ser histórico, geográfico, de cunho religioso entre outros. O fundamentalismo religioso constitui-se atualmente uma das fontes mais importantes na construção da identidade visto que a busca da felicidade em Deus é um dos pontos mais relevantes na atualidade para uma determinada classe social principalmente. Haja vista, os conflitos e as dificuldades enfrentadas pelas pessoas são atualmente apaziguados pela busca na fé, na cura, no exorcismo como fuga dos problemas. Assim, podemos perceber o acelerado crescimento de igrejas protestantes e um perceptível avanço no interior da igreja católica cristã, evidenciando a insatisfação do povo com a sua própria identidade denota, também, a necessária intervenção do conteúdo da ciência, em consonância com o da fé, orientando a construção de uma significação social.

Referências Bibliográficas
CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede. 4 ed. São Paulo: Paz e Terra, 1999.
_________________. O poder da identidade. 2 ed. São Paulo: Paz e Terra, 1999.
CEBRAP. Novos estudos n. 44, março, 1996.
DURKHEIM, Émile. As formas elementares da vida religiosa: o sistema totêmico na Austrália. São Paulo: Martins Fontes, 1996.
GLEIZER, Marcelo. O fim da terra e do céu. São Paulo: Paz e Terra, 2001.
ORTIZ, Renato. Mundialização e cultura. São Paulo: Brasiliense, 1994.
WEBER, Max. A ética protestante e o espírito do capitalismo. São Paulo: Pioneira, 1987.

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